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Maio 27
Discurso do Dia do Agrupamento - 25 de maio

Exmos. ilustres colegas de mesa, entidades convidadas, alunos, professores e demais funcionários, pais  e encarregados  de educação

Estamos a comemorar o dia do Agrupamento e também o seu patrono - José Estêvão, o seu nome por alguns dos seus ideais.
Relembro a importância de que, enquanto Agrupamento que somos, é necessário evidenciar de que tratamos de uma Unidade Orgânica diferente. Não nos devemos iludir com o facto de alguns suporem, em particular quem decide, de que se trata simplesmente de juntar um conjunto de edifícios, professores e funcionários e de racionalizar um modelo de gestão. Uma nova Unidade Orgânica significa a criação da identidade de uma nova comunidade. Se por um lado este facto constitui um desafio em favor do superior interesse nacional e, como por nós também foi assumido, como uma oportunidade de melhorarmos, isto é, de fazermos mais e melhor, não poderíamos deixar de salientar que há fatores estruturais que impedem a plenitude do mínimo desejável. É frágil a  garantia de termos a atividade letiva sempre protegida pelo clima de estabilidade e serenidade e estamos longe de termos eliminado os fatores de insucesso, de retenções e de abandono escolar.
Nesta tensão permanente onde todos colocamos expetativas - agentes da comunidade, tutela, encarregados de educação, professores, outros técnicos da ação educativa e alunos, o Projeto Educativo e o Plano de Intervenção do Diretor têm-se constituído como uma resposta equilibrada pelo tanto que todos temos conseguido no AEJE, ao vencermos os desafios, ao aproveitarmos as oportunidades e pela tenacidade com que temos enfrentado dificuldades e constrangimentos.
Temos e continuaremos a ter uma oferta educativa muito relevante, uma dinâmica de complemento curricular notável e resultados académicos extraordinários. Mas também temos feito um acérrimo combate ao insucesso escolar, bem como o combate noutras dimensões bem mais subtis, onde muitos alunos enfrentam sérias dificuldades que partilham, ajudando-os a desconstruir e abrindo as portas para os ajudar a trilhar caminhos mais iluminados. Juntamo-nos no infortúnio, mas, felizmente, temos partilhado com muito mais frequência os sucessos dos nossos alunos.
Se a ideologia / estratégia para esta ação educativa podem constituir-se como a pedra angular nesta construção, todos sabemos que a massa que cola o querer e o trabalho dos alunos é a vontade, a competência e a dedicação dos seus professores. Assim sendo, os resultados que temos vindo a registar e que hoje também simbolizamos com os prémios de reconhecimento, é-o também, na justa medida, aos professores que os ajudaram neste caminho.
No entanto, ao não nos tentarmos a aprofundar os papeis na educação, podemos não só cometer o propósito de não dar o devido valor à escola e aos seus professores, como também o de desvalorizar, talvez, uma das maiores senão a maior criação que a humanidade conseguiu que foi a de educar e instruir.
Se lhe juntarmos os conceitos de cidadania, pátria e civilização talvez possamos prever de que forma a escola e os seus agentes são o alicerce do futuro da humanidade.
Referi na palestra desta manhã, no âmbito da Cidadania Social, a ênfase que o professor Adriano Moreira coloca nos três tipos de Miséria: moral, espiritual e material, decorrente de algumas intervenções do Papa Francisco, bem como o facto da humanidade conviver com a existência de mais de mil milhões de seres humanos vítimas de fome.
Partilho um exemplo de miséria humana retirado de um autor que é o maior exemplo de todas as misérias, para poder advogar do poder da Escola e dos seus professores nos feitos da humanidade, neste caso dos seus defeitos – (Excertos do livro: A Minha Luta de Adolf Hitler) e no poder que a educação tem para, de forma sublime, poder transformar o mundo.
Foi talvez decisivo para a minha vida posterior que me fosse dada a felicidade de ter como professor de história um dos poucos que a entendiam por esse ponto de vista e assim a ensinavam. O professor Leopold Pötsch, da escola profissional de Linz, realizara esse objetivo de maneira ideal. Era ele um homem idoso, bom, mas enérgico e, sobretudo pela sua deslumbrante eloquência, conseguia não só prender a nossa atenção, mas empolgar-nos verdadeiramente. Ainda hoje, lembro-me com doce emoção do velho professor que, no calor de sua exposição, nos fazia esquecer o presente, encantava-nos com o passado e do nevoeiro dos séculos retirava os áridos acontecimentos históricos para transformá-los em viva realidade.”
“O nosso fanatismo nacional de jovens era um recurso educacional de que ele, frequentemente apelando para o nosso sentimento patriótico, se servia para completar a nossa preparação mais depressa do que teria sido possível por quaisquer outros meios. Este professor fez da história o meu estudo favorito. Assim, já naqueles tempos, tornei-me um jovem revolucionário, sem que fosse esse o seu objetivo.”
“Quem, com um tal professor, poderia aprender a história alemã, sem ficar inimigo do governo que, de maneira tão nefasta, exercia a sua influência sobre os destinos da nação?”
“O problema da "nacionalização" de um povo deve começar pela criação de condições sociais sadias como fundamento de uma possibilidade de educação do indivíduo. Somente quem, pela educação e pela escola, aprende a conhecer as grandes alturas, económicas e, sobretudo, políticas da própria Pátria, pode adquirir e adquirirá, certamente, aquele orgulho íntimo de pertencer a um tal povo. Só se pode lutar pelo que se ama, só se pode amar o que se respeita e respeitar o que pelo menos se conhece.
Não devemos minimizar a importância que têm estas afirmações. O povo que nós vamos conseguindo ser deve-se mais ao papel congregador da ação da Escola do que aquele que aparentemente pode parecer.
Seguramo-nos numa boa ideia de nação e de pátria pelos contributos inexcedíveis dos currículos das disciplinas de Português e de História, entre outros, e de autores como Camões, Pessoa e Vieira. No entanto, não conseguimos saber fazer o são convívio entre as ideias e ideais manifestados e seu misticismo e o cartesianismo e positivismo instrumentais das disciplinas ditas das ciências e Tecnologias. Embora nisso sejamos muito bons. É-nos relativamente fácil explicar o cálculo infinitesimal de Leibnitz mas parece medonho conseguir explicar que esse mesmo Platónico Leibnitz construiu o cálculo infinitesimal na procura de Deus e da razão ou razões divinas. Falamos das sociedades das organizações políticas numa perspetiva congregadora, embora saibamos muitas das vezes que alguma coisa deveria de ser feita…
Os professores têm desempenhado um papel extraordinário na sociedade portuguesa, mas como tudo na vida podem melhorar. O que não fazem tão bem quanto a atualidade espera decorre de processos que são lentos, como todos os processos enraizados. O papel do homem e da mulher em determinados contextos, consideramo-lo mau, em certos casos atentatório à Carta dos Direitos Humanos, mas a essência de explicar que há outras formas de se ser, estar e fazer demora. A mutilação das jovens em África não é feita porque quem o faz ou a própria cultura queira mal às jovens. O que é um facto é que cabe a cada um de nós interceder para melhor esclarecimento de que aquilo que é feito é escusado e que há outras formas de podermos ser e estar melhor. Assim também é na sala de aula e na escola. Estamos muitas vezes convencidos daquilo que para cada um de nós é correto é o expetável pelos outros, no entanto deixou de o ser. Temos de compreender as novas exigências e expetativas de um país, de uma cidadania e de uma humanidade que extravasa as margens dos currículos e das formas destes serem explorados e avaliadas as suas aprendizagens.
Contudo esta necessidade de evolução não retira em nada a dedicação que os professores têm tido pela garantia da estabilidade social, nacional, europeia e da nossa posição no mundo. O país tem uma dívida para com os seus professores. O país tem uma dívida que não tem preço e o maior dos problemas é que o país ainda não percebeu isso. Ao contrário de outros... que muito devem ao país e que se servem mais da sua democracia do que a servem, nós professores somos um caso em que todos os dias sonhamos em fazer com que haja melhores pessoas no mundo – e nisso a escola e os professores sabem como fazer um mundo diferente – a questão é de sabermos até onde queremos ir. Até onde queremos sonhar, porque nunca deixaremos de ser sonhadores.
Não quero terminar sem fazer uma referência a Sebastião de Magallhães Lima, a propósito de um discurso sobre o nosso patrono – José Estêvão - e o que poderemos sonhar para o Homem de todos os tempos (26/12/1909):
 “É essa mocidade espiritual, ou, antes, essa força moral que caracterisa o sabio, o philosopho, o poeta, o artista, emfim todos os privilegiados do espirito e do coração.
E foi seguramente essa mocidade espiritual, essa grande e poderosa força moral que, mais do que nenhuma outra, caracterisou esse homem raro, unico, excepcional, que viemos hoje aqui celebrar n'um frémito unisono dos nossos corações, na suprema vibração das nossas almas; a palavra feita luz, o verbo feito marmore, mais poderoso do que os thronos dos Cesares, do que as tiáras dos pontifices—José Estevão Coelho de Magalhães—personalidade de granito; cidadão feito para a antiga Roma que não para o Baixo Imperio de uma sociedade corrupta; o ideal da liberdade, do amor, da justiça, da emancipação humana, na sua maior elevação moral e civica, o ideal da patria, d'esse patriotismo que teve o seu echo triumphal no hymno da Maria da Fonte, como os revolucionarios de 89 o tiveram na sua immortal Marselheza.
Superior á força das bayonetas dos Hapsburgos, na Austria, de Eduardo III, em Inglaterra, de Carlos V e Filippe II, em Hespanha, de Luiz XIV e Napoleão I, em França, não cessarei de o repetir—está a acção moral do individuo que foi, é e será sempre o segredo da civilisação. O homem não foi feito para um eterno martyrio e para repellir eternos attentados. Ha uma coisa superior a todas as luctas violentas: o dever reciproco. O methodo da civilisação não se conquista, porém, com a mesma facilidade com que se conquista uma praça forte”
Termino com o sonho de D. Quixote de La Mancha. Cervantes fez o melhor romance. Acreditando n’O Homem de La Mancha que há em cada um do nosso Eu de professor e que dá brilho a este conjunto de alunos hoje aqui reconhecidos, devolvo-o em canção, como tributo a todos nós (com um especial agradecimento ao meu colega Emanuel Moura e aos alunos Rafael e Beatriz que a cantarão ao Vivo com o acompanhamento do João Fontes).
Em 25 de maio de 2017
Fernando Delgado Santos

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