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Abril 05
Biblioteca Escolar - um espaço de fusão
 

Vivemos hoje um momento muito particular na história dos processos de criação, difusão e transformação do saber. Há uma revolução patente à nossa volta trazida pelo uso generalizado dos computadores, um mundo híbrido de novas materialidades a rodear-nos, uma “modernidade líquida”, na consagrada expressão de Zygmunt Bauman .

O modelo das Bibliotecas Escolares (BE) das últimas décadas alterou-se profundamente. Tal deveu-se, entre outros fatores, à consciência de que as bibliotecas escolares não deveriam ser apenas depósitos de livros, com um serviço mais ou menos organizado de arquivo e de empréstimo, servindo esporadicamente os curricula.

Modernamente, considera-se a biblioteca escolar como um espaço organizado, com um conteúdo (as coleções documentais), uma organização com serviços estruturados entre si, basicamente de informação, educação, cultura e lazer, dirigidos a um público (a comunidade escolar). É, portanto, um sistema, um conjunto de elementos que constitui um todo, onde qualquer alteração num dos elementos afeta toda a estrutura. Que fazer com uma BE cuja coleção é desadequada ao público que a frequenta?

Como parte de um sistema mais alargado -a Escola- a BE, para além do cumprimento da sua missão enquanto unidade de informação, integra-se no projeto da instituição e depende dela quanto a recursos e meios de ação. A sua integração é natural uma vez que é vital para o cumprimento da missão e dos objetivos educativos da escola, envolvendo-se, portanto, nos processos de aquisição de conhecimento.

Este processo de integração no projeto da instituição pede à BE um esforço de organização, de meios de ação e de recursos. A BE que se organiza em torno de um projeto coletivo (o Projeto Educativo de Escola, o Projeto Curricular e outros), que define o seu plano de desenvolvimento da coleção, o seu plano de ação e sua política orçamental, procura a melhoria dos seus serviços e uma contribuição eficaz para responder às necessidades da Escola e dos seus utilizadores.

O atual contexto da sociedade da comunicação e da informação coloca à escola e à Biblioteca Escola questões incontornáveis nesta era de transformação de paradigmas. Essa envolvência acarreta consigo promessas e desafios, oportunidades e riscos -o aparecimento da rede, a informação digital, os documentos eletrónicos, as tecnologias Web 2.0/3.0, determinam às bibliotecas continuados e graduais desafios de mudança.

A Biblioteca Escolar vive também na encruzilhada das novas relações da transmissão do saber. O seu público é moderno e exigente, sôfrego de imediatismos e reclama disponibilidade, rapidez, resultados satisfatórios.

É certo que a Web 2.0/3.0 é uma realidade nalgumas BEs, abrindo perspetivas e oferecendo metodologias e meios de trabalho, disponibilizando recursos espantosamente variados e numerosos.

A Internet disponibiliza recursos de forma atraente, por isso ocupa um lugar de destaque nas bibliotecas escolares. Contudo, nem sempre estes recursos são aproveitados e explorados da melhor forma. A Internet disponibiliza recursos…. Isso já é passado! A Internet é uma ferramenta motivadora no processo de aprendizagem. O sistema educativo, ao integrar as novas tecnologias, renovou as metodologias e práticas; assim, transmitir, adquirir, partilhar e pesquisar informação e conhecimentos tornou-se mais acessível a todos. Os serviços Web são, de facto, um valor acrescentado, irrecusável, capaz de reforçar e enriquecer a missão da BE.

Face à multiplicidade de modelos, fontes e materiais, face a uma geração de jovens “nativos digitais”, face a uma sobre-extensão cultural e tecnológica, desenham-se novos comportamentos e atitudes por parte dos profissionais envolvidos na BE e nos utilizadores que a ela recorrem – isto é, reconfigura-se a ordem da atual BE. Adotando novos modelos de serviço, métodos e tecnologias, ela adapta-se e moderniza-se com vista à melhoria.

E a leitura? O prazer da fruição de um livro, o salto imaginário para dento de um romance, um conto, onde estão? O que é da descoberta de uma paisagem pelos olhos do autor, da inquietação ou do êxtase de um poema, da volatilidade de uma notícia de jornal?

Atrevemo-nos a dizer que nunca, como hoje, a leitura teve nas bibliotecas escolares um destaque tão evidente. Qualquer programação anual das bibliotecas escolares contempla “semanas da leitura”, encontros com escritores, jogos e passatempos de leitura, participação em concursos nacionais e concelhios, atividades em parceria com a sala de aula, sessões de leitura e discussão de obras literária, enfim, uma vasta oferta de promoção do gosto pela leitura.

Qual a importância do livro e da leitura no contexto da formação pessoal dos nossos alunos, do cidadão?

Citamos na íntegra um parágrafo do “Elogio do livro e da leitura” de Cândido de Oliveira Martins*- “Através do livro, todos aprendemos a ler e a contar, a escrever e a pensar; através do livro, aprendemos a conhecer os grandes pensadores e os escritores clássicos; através do livro, aprendemos a conhecer os grandes textos sagrados; através do livro, aprendemos as lições da história e os avanços da ciência; através do livro, aprendemos os grandes valores que regem as sociedades modernas; através do livro, aprendemos a sonhar outros mundos e pensar utopias; através do livro, aprendemos a rir e a chorar, a rezar ou a amar; através do livro aprendemos descobrir o que nos cerca e a descobrimo-nos a nós próprios. O livro e a leitura são instrumentos essenciais de exercício de inteligência e de ginástica mental, de comunicação e de informação. Afinal, o livro e a leitura moldaram definitivamente a nossa memória e identidade individuais e coletivas, bem como a nossa visão do mundo.  (Texto completo em http:// alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/zips/candid14.pdf )

Como pode, pois, a biblioteca escolar, alhear-se da universalidade da leitura?

É inegável o crescente relevo conferido à BE no cenário do universo escolar português. A criação de uma Rede de Bibliotecas Escolares transversal a todos os níveis de ensino, a valorização do papel do professor-bibliotecário, a importância atribuída aos assistentes operacionais, o surgimento de formação pós-graduada nesta área, é disso prova suficiente.

A comemoração recente dos 20 anos da Rede de Bibliotecas Escolares confirma a importância com que os sucessivos governos encaram o trabalho, a formação, a divulgação, as parcerias e o apoio concelhio de proximidade que esta rede tem desenvolvido em duas décadas em todo o território nacional. Temos, no entanto, a perceção de que o caminho ainda é longo, que a formação será demorada, a divulgação sempre continuada e que os resultados não serão imediatos. Serão os alunos de há 20 anos melhores leitores, melhores utilizadores da Web? Certamente que sim.

Todos temos como certo que as Bibliotecas Escolares contribuem para o sucesso educativo dos alunos e são um ingrediente importante para o desenvolvimento das literacias imprescindíveis na sociedade: a leitura, os meios de comunicação, as tecnologias da informação. Esse contributo deve tornar os nossos alunos mais aptos e apetrechados para os desafios que a sociedade lhes coloca, mantendo-os em permanente alerta e obrigando-os a uma constante atualização. É neste movimento contínuo de informação que a biblioteca escolar deve ser parte adjuvante, proporcionando por um lado conhecimento adquirido e por outro abrindo portas para outros conhecimentos.

Concluindo, o desafio fundamental das bibliotecas escolares dos nossos dias, a marca indelével de uma biblioteca escolar do séc. XXI, deve ser ditada pela aprendizagem baseada na pesquisa para a construção do conhecimento e na promoção da leitura como literacia fundamental.

Ler é prazer, pesquisar é descobrir, ziguezaguear na informação, coligir, selecionar, levar ao extremo uma experiência de aprendizagem. É também, em razão maior, o mistério, o prazer da descoberta em pequenos passos, a satisfação da conclusão.

As bibliotecas apresentam-se como lugares excitantes de saber e inovação, contribuindo para o enriquecimento do currículo, das experiências de aprendizagem dos alunos e das práticas docentes.

Valorizar a leitura, a descoberta, transformar a informação em conhecimento são talvez as tarefas mais complexas, desafiadoras e gratificantes das bibliotecas escolares.

05-04-16, José Caseiro
Professor bibliotecário
AE José Estêvão

 

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