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Junho 02
Entrevista a António Santos, um comunicólogo da EDP

No dia 2 de fevereiro de 2015, os alunos da turma H do 10ª ano receberam o comunicólogo António Santos na biblioteca escolar, com a supervisão da professora Paula Tribuzi.

“Cheguei a ler a bíblia de uma ponta à outra”
 
Entrevistador (E): Qual é a sua origem, onde tudo começou?
António Santos (A): Perdi o meu pai com três anos e a minha mãe disse-me que a primeira vez que chumbasse ia trabalhar. Chumbei e acabei por ter de abandonar os estudos na altura, mas nunca desisti e, mais tarde, comecei a ter aulas outra vez, para tirar o curso de Ciência e comunicação. Mas tive um “acidente de percurso”, a minha filha mais velha, e por isso só consegui terminar o curso com trinta anos.
 
E: Em que é que consiste o trabalho de um comunicólogo?
A: A comunicação não é uma ciência exata. A nível interno, na empresa, procuro estabelecer laços entre as pessoas para que possam trabalhar melhor. A nível externo, tento passar uma boa imagem da empresa mas também melhorar as condições de trabalho, não é apenas ser simpático, mas também responsabilizar as pessoas para que transmitam a mesma mensagem.
Não trabalho apenas para a empresa, mas também para jornalistas.
 
E: O que é preciso para se ser um bom comunicólogo?
A: A tentativa é falar de forma que nos queiram ouvir mas gostar do que os outros nos dizem. No fundo, estar atento aos outros, ao meio que nos rodeia, pois nós somos o que vamos aprendendo e as interações que vamos tendo. Um bom comunicólogo é alguém que está atento e compreende.
 
E: Considera-se um bom comunicólogo?
A: Não sei, tenho alguns sinais de que o meu trabalho não é mau. Tenho uma tendência natural para tornar os textos mais claros. Fiquei admirado quando me escolheram pelo sindicato e perguntei-me “Será que sou mesmo bom?”. Ainda não o consegui provar, mas com o convite que me fizeram presumo que alguém tinha estado atento ao meu trabalho.
 
E: Qual a sua ligação com a língua? Como nasceu o seu gosto por ela?
A: Tinha uma professora na escola primária que cada erro dava direito a seis palavras. Sempre fui o melhor aluno e o meu gosto pela língua veio naturalmente mas também foi forçado. Sempre gostei de ler e cheguei a ler a bíblia de uma ponta à outra. Hoje, tenho a casa cheia de livros. Se não gostar de um livro, forço-me a terminá-lo, o que apenas acontece, quando este é oferecido ou aconselhado por alguém. Quando isso acontece procuro descobrir porque é que esse alguém mo aconselhou e aprender mais sobre ele.
 
E: Que ideia tem hoje do seu percurso?
A: Fui estudante trabalhador, tirei o curso na Universidade Nova de Lisboa. Não havia cursos à noite; por isso, vi-me obrigado a ter aulas de dia e a faltar ao trabalho, compensando depois. O curso era para cinco anos e eu fi-lo em quatro. Eu era o mais velho deles todos, era o velhinho (risos); na altura, tinha vinte e oito anos, e era visto com admiração e respeito. (É engraçado: a maioria não chegou a acabar o curso e não percebiam porque é que um sujeito que já trabalhava se encontrava a investir nos estudos.) A minha experiência de vida ajudou-me muito. Fui um aluno atento e compreendia os professores, pois conseguimos uma nota melhor quando lhes fazemos as vontades. Era muito trabalhador e não tive tempo para praxes.
 
E: Falemos do jornal em que trabalhou?
A: O jornal estava virado para as funções, as operações e o dia a dia e tinha uma tiragem bastante grande. Era jornalista interno, mas também comunicólogo. Era bem recebido pelas empresas e cheguei a fazer uma reportagem em Aveiro, sobre a Vista Alegre.
 
E: Chegou a fazer algo no estrangeiro?
A: Não.
 
E: Como sabemos, hoje em dia o jornalismo é mais perigoso e difícil, como podemos ver nos telejornais.
A: Sim, é um bocado perigoso, mas os dramas dos jornais são quase todos iguais, o que não ajuda à imagem. Infelizmente, os jornalistas que querem sobressair estão a tentar a sua sorte no estrangeiro.
 
E: Há alguém mas conhecido que tenha entrevistado?
A: Tanta gente! Eugénio de Andrade, Paula de Carvalho, Natália Correia, António Lobo Antunes, alguns pintores... Tinha um colega que me ajudava com informação e obras das pessoas e isso levava a que a entrevista corresse bem. Fazíamos perguntas pertinentes. Era giro ver a cara dos entrevistados quando se apercebiam de que estavam a falar com indivíduos que os conheciam e tinham lido as suas obras. (risos)
 
E: A profissão comunicólogo tem algum aspeto negativo?
A: Não é fácil obter empatia por parte da outra pessoa e com algumas, se se abrissem, tudo funcionava melhor. O comunicólogo que se encontra a criar um grupo e procura integrar alguém nele tem de ter essa destreza. Há alturas em que sinto que sou obrigado a forçar alguém a integrar um grupo, quando este não o quer.
   
E: O que pensa do novo acordo ortográfico?
A: Não sei, não é uma pergunta fácil. Há três anos que escrevo das duas formas, uma vez que há empresas que não querem o acordo. O que se diz escreve-se, o que não se diz não se escreve. Em alguns casos tem alguma lógica, noutros é anedótico. Uma coisa é uma língua evoluir naturalmente, adquirir novas palavras; outra é mudarem palavras como “para” e “pára”. Foi difícil fazer a transição e, na empresa, contrariar a resistência natural das pessoas à mudança.
 
E: Falando do futuro, há alguma meta a atingir?
A: Sou mau em planeamento. Tento aproveitar ao máximo o dia a dia. Às vezes não tenho tempo para fazer o que devo no próprio dia, quanto mais daqui a quinze dias. Por isso, não tenho metas. O meu sonho é fazer aquele sindicato, com trinta anos, comunicar bem. Se tiver algum sonho é este, mas não estou consciente de que consiga isso. Envolveria muitas pessoas e mudar muitos hábitos, tirar-lhes a nostalgia.
Chego ao fim do dia frustrado por não conseguir fazer o que tinha para fazer. Fica sempre alguma coisa para o dia seguinte, todos os dias.
 
E: E quanto a uma escrita que fuja ao mundo do trabalho, mais a nível pessoal?
A: Escrevo poesia por encomenda e tenho uma tertúlia em Setúbal, onde se fazem reuniões. O grupo é composto por escritores, pintores, poetas... serve para descontrair e divertir.
 
E: Há alguém que não tenha tido oportunidade de entrevistar mas que o queira fazer?

 

A: Talvez Filipe I ou II de Espanha. Gostava de lhe perguntar o que veio cá fazer. (risos)
 
 
Registo feito por Ana-lia Graça e Carolina Gonçalves do 10ºH
Trabalho final realizado por Carolina Gonçalves do 10ªH

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