Diretamente relacionado com esta temática, identificamos um conceito com o qual nos encontramos, presumo eu, bastante familiarizados: o conceito de Aldeia Global – termo que sugere a criação de uma rede de conexões que encurtam as distâncias, facilitando as relações culturais e económicas no que respeita à rapidez e eficiência das mesmas.
O processo de globalização, como diversos historiadores defendem, teve início logo no século XV, aquando da época dos Descobrimentos e da empresa marítima, que a partir das suas diversas expedições, foi permitindo a progressiva mutação do caráter intransponível do mar, conferindo-lhe uma nova conceção – completamente oposta – de elemento de união entre os povos.
Assiste-se assim, ao convergir gradual das distâncias. Povos ocidentais experienciam ativamente o processo de trocas culturais resultante do contacto com povos totalmente distintos, nomeadamente os povos do Oriente.
Mas o que é exatamente a globalização hoje em dia? Em que consiste este processo que, aparentemente, teria surgido há já vários séculos, evoluindo lenta e gradualmente até se tornar de certa forma, a base indissociável da nossa sociedade contemporânea?
Vivemos, indubitavelmente, a era da globalização.
A atestar esta premissa, basta observarmos o nosso entorno para compreendermos a dimensão e complexidade da influência estrangeira que existe, claramente, ao nosso redor, e a facilidade de estabelecer comunicações instantâneas com pessoas oriundas dos recônditos do nosso planeta, através, nomeadamente, da internet – que exerce um enorme peso na sociedade atual – da televisão, da rede mundial de computadores, e de diversos outros meios de comunicação, que têm quebrado barreiras e continuam diariamente a fazê-lo, ligando as pessoas, propagando ideias, defendendo causas de relevância universal, entre outros.
Mas, a questão sobre a qual me debruço remete para as consequências sociais do fenómeno em análise; afinal, que efeitos terá esta conjuntura mundial nas mentalidades dos indivíduos? De que forma as novas tecnologias, formas de encarar o mundo e a diversidade cultural, que cada vez mais parece fundir-se para dar corpo a uma cultura genérica, transversal e comum a todos nós, interferirão connosco, no nosso sentir, pensar e viver? Até que ponto não será esta a era da globalização da solidão?
Se é verdade que nunca se ouviu falar tanto de comunicação, intercâmbio e interatividade, também é verdade que nunca se ouviu falar tanto acerca de solidão e de isolamento.
Ao mesmo tempo que se ligam vários pontos do mundo, as pessoas do mesmo país, cidade, ou até mesmo da mesma casa, afastam-se cada vez mais.
As relações interpessoais resumem-se ao teclado e ao ecrã do computador... o real dá, de certa forma, lugar ao virtual... e, deste modo, quase que imperceptivelmente, as pessoas vão-se tornando cada vez mais solitárias e dependentes destas novas tecnologias.
Verifica-se uma perda gradual da essência da nossa humanidade: a sociabilidade.
O ser humano, como ser social que é, necessita, obrigatoriamente, do convívio assíduo com o outro, a fim de desenvolver e estruturar a sua personalidade harmoniosamente. Todos, sem exceção, precisamos de integrar-nos e interagir uns com os outros no lugar e meio específico em que nos encontramos inseridos.
Assim, as novas tecnologias e meios de comunicação, enquanto unem as pessoas, simultaneamente as separam, mascaram e escondem, na medida em que o sujeito, (no caso específico do uso da Internet) pode perfeitamente controlar e escolher aquilo que quer dar a conhecer e aquilo que prefere guardar para si; aquilo que deseja que os outros cibernautas pensem que ele é, sem ter, necessariamente, de sê-lo, deixando de existir deliberadamente espaço para a autenticidade do verdadeiro “eu”.
Sabemos quem faleceu do outro lado do mundo, quem ganhou o prémio Nobel da Paz, o campeonato de futebol, quem é o presidente dos países X, Y, Z,… mas, quase sempre, desconhecemos o nome do nosso vizinho.