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Março 16
 O fim está próximo...
por  Jacinta Maria C. C. Afonso  em 16-03-2015 10:08
Categoria: Diversos

- O fim está próximo – grita o louco de cima de uma cadeira.

As pessoas já o aprenderam a ignorar. De facto, essa parece ser a sua atividade preferida: ignorar. Pensar é difícil, custa e cansa. De facto, arranja-nos tantos problemas que o melhor é evitar este ato ao máximo.
 
Todos trazem sacos verdes, de papel, com frases que incentivam a proteção do ambiente.
 

- Então pois, acho muito bem que se tomem medidas destas. Ouvi dizer que cada saco tem uma probabilidade de 70% de asfixiar uma ave…

Falar tornou-se um ato automático, como apertar os sapatos ou até mesmo respirar. As palavras deixaram de vir da nossa mente para vir diretamente da faringe. Nunca o acesso à informação e aos acontecimentos da atualidade foi tão generalizado ao público e também nunca o interesse deste [pela sua compreensão] foi tão reduzido.

Um atentado, outra descoberta de corrupção, uma invasão de um país, um clube de futebol que foi roubado num jogo, mais um atentado, um assalto, vinte incêndios, outro atentado… Vai tudo dar ao mesmo, desde que nos permita fazer umas boas piadas e esquecer o que anteriormente era tão importante.

- A culpa é deles. Não tinham nada que se meter com as crenças dos outros.
- A culpa é dos políticos, que são todos iguais.
 
Desde que vá dando para viver mediocremente vai tudo bem. Nada tem real importância.
 
Deixou-se de comer ovo porque faz mal ao colesterol e foram proibidas lâmpadas incandescentes porque gastam muita energia e cerca de 80% da energia do país vem do petróleo e daqui a 100 anos acaba-se o petróleo e o petróleo causa o aquecimento global e ai que os ursos estão a morrer no Ártico. Está comprovado cientificamente!
 
A ciência só é benéfica na medida em que nos abastece de estatísticas e fatos interessantíssimos. Todos têm vergonha de agir baseados em superstições, então armam-se de números que não começam sequer a compreender. Mas a reciclagem é importante, disso não há dúvidas.
 
Assistimos com total indiferença à queda da civilização. Podemos manifestar-nos, fazer uns cartazes, uns grafitis, ou até, em certos casos, partir umas monstras. Mas são atos inconsequentes que encontram fim em si mesmos.
 
Alguns têm objetivos. Querem tudo. O mundo. O universo. A verdade. São exatamente como nós dizemos. É impossível que a terra gire em volta de si própria. Matar é fácil e necessário enquanto não impusermos a paz.
 
O fim já chegou. Mas conseguimos salvar os ursos.
 
Afonso Rufino - 10.º C

 

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